A China potência disruptiva da ordem internacional
Considerando a declaração de Xi Jinping de estabelecer hegemonia global até 2050, a ameaça de retomar Taiwan por via militar, a criação de Ilhas artificiais no Mar do Sul da China, a instalação de bases militares em vários territórios (inclusive o Ártico) e silenciosamente controlando instituições internacionais (vide OMS), a China é hoje uma potência disruptiva da ordem internacional.
MAO
TSÉ-TUNG, após expulsar as forças nacionalistas de CHAN KAI-SHEK para
Taiwan, proclamou a República Popular da China (RPC) em 1º de outubro de
1949, instaurando, muito provavelmente, o regime político mais brutal
que a história da humanidade ousou testemunhar.
Estima-se
que, apenas durante o seu governo (1949-76), cerca de 30 milhões de
seus próprios compatriotas (chineses) foram mortos (de alguma forma)
pelo implacável regime comunista instaurado sob a sua liderança,
existindo estimativas que apontam números ainda maiores, próximo de 45
milhões, quando computados outros fatores, como a fome produzida por sua
completa insanidade (FABIO PREVIDELLI; De Canibalismo a Ratos: A Grande
Fome de Mao, o “Holodomor” Chinês.
Apenas
dois anos após sua chegada ao poder, a “Nova China” incorporou, ao seu
território, o Tibete (em outubro de 1951), massacrando a população
nativa, e ameaçando, – após Nova Delhi conceder asilo político para o líder DALAI LAMA, invadir parte da Índia
Todos
esses fatos, – adicionados ao emprego de mais de um milhão de soldados
chineses em apoio a criminosa invasão da Coreia do Sul, pelas forças do
Ditador norte-coreano KIM IL-SUNG (25 de junho de 1950 a 27 de julho de
1953) –, marcaram, à época, a completa desilusão das forças democráticas
ante a ausência de uma esperada determinação norte-americana (com
exceção da frágil reação no episódio coreano) no sentido de conter a
configuração de um verdadeiro império do mal na Ásia, liderado por MAO
TSÉ-TUNG.
Com
sua consolidação no poder, MAO construiu o maior exército em termos de
efetivos do mundo, detonou sua primeira bomba atômica em 1964, lançou ao
mar seu primeiro submarino nuclear em 1974, e continuou, durante
praticamente todo o seu plano de governo vitalício, desafiando todo o
mundo, em especial os Estados Unidos, a quem atribuiu o desonroso título
de tigre de papel.
Passados
mais de 40 anos de sua morte, sua herança permanece mais viva do que
nunca na mão do novo ditador chinês XI JIPING, que ostensivamente já
declarou que pretende estabelecer uma hegemonia chinesa em nível global
até 2050, impondo, por consequência, a todas as nações, o seu modelo
político de um “Socialismo com Características Chinesas”.
Rasgando
os acordos que permitiram a devolução de Hong Kong e Macau, a
administração chinesa, através do modelo “um estado dois sistemas”
(China Elogia Princípio “Um País, Dois Sistemas” Implantado em Macau,
ameaçando retomar a república de Taiwan pela força militar, criando
Ilhas artificiais no Mar da China Meridional (algumas a mais de 1.500 km
de suas costas e a poucos quilômetros da costa de outros países),
estabelecendo bases e instalações militares em vários territórios,
incluindo uma presença na região Ártica, a República Popular da China é,
além de qualquer controvérsia, no mínimo, uma potência disruptiva da
ordem internacional e, consequentemente, a maior ameaça a paz e a estabilidade mundiais, superando (até mesmo) os extraordinários desafios históricos representados, no passado, pelo nazi-fascismo (1939-45) e pelo comunismo soviético (1947-91).
Silenciosa
e dissimuladamente tomando gradualmente conta das principais
instituições internacionais, sendo a sua última vítima a OMS (em um
verdadeiro conluio que impediu que informações estratégicas sobre a
disseminação do novo corona vírus estivessem disponíveis para todo mundo
em tempo hábil), e negando-se a assumir a responsabilidade pelas
gravíssimas consequências da disseminação do vírus chinês SARSCOV-2 (e
inclusive a sua própria origem nacional), bem como das principais e mais
recentes pandemias que assolaram a humanidade (ex
vi a gripe asiática em 1957, a gripe de Hong Kong em 1968, a gripe
aviária A-H5N1 em 1997 e a SARS em 2003), parece que chegou a hora do
mundo (finalmente) despertar para a real ameaça representada pelo
império vermelho, estabelecendo, por derradeiro, um ponto final as
agressivas ações chinesas de dominância global.
Talvez
essa seja a última oportunidade em que o mundo ainda seja capaz de
(unido) impor limites ao desafio e a própria arrogância chinesa. Caso
contrário, muito provavelmente a repressão que hoje limita-se a Hong
Kong, talvez possa vir a acontecer no nosso próprio quintal, valendo
lembrar que Pequim (como a história muito bem comprovou) tem o péssimo
hábito de romper (unilateralmente) acordos e ludibriar a ingenuidade das
democracias ocidentais.
texto bay Reis Friede
é desembargador, presidente do Tribunal Regional Federal da Segunda
Região (biênio 2019/21), professor emérito da Escola de Comando e
Estado-Maior do Exército e professor Honoris Causa da Escola de Comando e
Estado-Maior da Aeronáutica, professor emérito da Escola de
Aperfeiçoamento de Oficiais do Exército (EsAO) e Conferencista Especial da Escola Superior de Guerra (ESG). É autor do livro Ciência Política e Teoria Geral do Estado.
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