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Mostrando postagens de maio, 2007

Manoel Bandeira

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Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quer Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconseqüente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro brabo Subirei no pau-de-sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado Deito na beira do rio Mando chamar a mãe-d'água Pra me contar as histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora pra Pasárgada Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone automático Tem alcalóide à vontade Tem prostitutas bonitas Para a gente namorar E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar — Lá sou amigo do rei — Terei a mulher que eu quero Na cama

Vinicius de Moraes - sonetos

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SONETO DE FIDELIDADE De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal selo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angustia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. Estoril, outubro de 1939 Soneto do maior amor Maior amor nem mais estranho existe Que o meu, que não sossega a coisa amada E quando a sente alegre, fica triste E se a vê descontente, dá risada. E que só fica em

Somos todos Bolivianos

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Os Bolivianos não são nada arianos nem são 100% pretos e podem mesmo lembrar alguns indianos com seus olhos puxados e tons acobreados. Bolivianos são originalmente “tiahuanacoanos”, surgidos no altiplano há muitos e muitos anos. Os Bolivianos mais antigos já viviam nos Andes antes que o Império Inca fosse tomado e transformado pelos velhos imperialistas espanhóis. Os bolivianos até que se tornaram “algo hispânico” com tantos séculos de imperialismo, mas os imperialistas hispânicos também foram cotidianamente transformados por eles... Os índios bolivianos os deixaram em pânico com seus revolucionários ideais bolivarianos! O arcaico imperialismo dos espanhóis os deixou em maus lençóis, roubando-lhes a prata e os cobres, assim como os modernos imperialistas latino-americanos os deixam sem gás e mais pobres. Para muitos responsáveis bolivianos, os invejáveis “hermanos” brasileiros são tão imperialistas quanto os mais fordistas dentre os capitalistas californianos. O dinheiro não tem pátria

SE

Se és capaz de manter a tua calma quando Todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa; De crer em ti, quando estão todos duvidando E para estes, no entanto, achar uma desculpa; Se és capaz de esperar sem te desesperares, Ou, enganando, não mentir ao mentiroso, Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares E não parecer bom demais, Mem pretensioso; Se és capaz de pensar – sem que isso só te atires, De sonhar – sem fazer dos sonhos teus senhores; Se encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires Tratar da mesma forma esses dois impostores; Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas Em armadilhas as verdades que disseste, E as coisas porque desta vida, estralhaçadas, E refazê-las com bem pouco que te reste; Se és capaz de arriscar numa única parada Tudo quando ganhastes em toda a tua vida, E perder, e, ao perder, sem nunca dizer nada, Resignado, tornar ao ponto de partida; De força coração, nervos, músculos, tudo A dar seja o que for que neles ainda existe, E a - persistir assim quando,