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Não haverá vencedores

Dezenas de jovens pobres, negros, armados de fuzis, marcham em fuga, pelo meio do mato. Não se trata de nenhuma marcha revolucionária, como a cena poderia sugerir em outros tempos e lugar. Eles estão com armas nas mãos e as cabeças vazias. Não defendem ideologia. Não disputam o Estado. Não há sequer expectativa de vida. Só conhecem a barbárie. A maioria não concluiu o ensino fundamental e sabe que vai morrer ou ser presa. As imagens aéreas na TV, em tempo real, são terríveis: exibem pessoas que tanto podem matar como se tornar cadáveres a qualquer hora. A cena ocorre após a chegada das forças policiais do Estado à vila Cruzeiro e ao complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro. O ideal seria uma rendição, mas isso é difícil de acontecer. O risco de um banho de sangue sim, é real, porque prevalece na segurança publica a lógica da guerra. O estado cumpre, assim, o seu papel tradicional. Mas, ao final, não costuma haver vencedores. Esse modelo de enfretamento não parece eficaz. Prova

Espiritualidade e Sociedade.

É incrível como nos tornamos, dia após dia, uma sociedade de depressivos e desconectados. São famílias desestruturadas, relacionamentos fragmentados e profissionais que vão ao trabalho de forma absolutamente robótica, minimamente inspirados apenas pelos seus salários do fim do mês. Diferente do que se poderia imaginar, o fato de vivermos hoje em um mundo onde somos submetidos a muito menos privações que no passado e onde já não temos que fabricar nossa roupa ou produzir o próprio alimento, não se converteu necessariamente em uma fonte de felicidade. Ao contrário, é até possível dizer que a depressão, enquanto pandemia, é fruto exatamente de uma época onde já não encontramos sentido naquilo que vestimos, comemos, com o que trabalhamos ou com as pessoas com quem nos relacionamos. É como se estivéssemos nos tornando uma legião de sonâmbulos que permanecem em um estado de torpor induzido, não raro por remédios, tentando acreditar que, se comprarmos mais alguma coisa, seremos capazes de p

FILOSOFIA MODERNA

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Filosofia moderna Marilena Chaui Universidade de S. Paulo, USP 1. Problemas de cronologia: Quando começa a "filosofia moderna"? Freqüentemente, os historiadores da filosofia designam como filosofia moderna aquele saber que se desenvolve na Europa durante o século XVII tendo como referências principais o cartesianismo — isto é, a filosofia de René Descartes —, a ciência da Natureza galilaica — isto é, a mecânica de Galileu Galilei —, a nova idéia do conhecimento como síntese entre observação, experimentação e razão teórica baconiana — isto é, a filosofia de Francis Bacon — e as elaborações acerca da origem e das formas da soberania política a partir das idéias de direito natural e direito civil hobbesianas — isto é, do filósofo Thomas Hobbes. No entanto, a cronologia pode ser um critério ilusório, pois o filósofo Bacon publica seus Ensaios em 1597, enquanto o filósofo Leibniz, um dos expoentes da filosofia moderna, publica a Monadologia e os Princípios da Natureza e da Graça e

FILOSOFIA MODERNA

Filosofia moderna Marilena Chaui Universidade de S. Paulo, USP 1. Problemas de cronologia: Quando começa a "filosofia moderna"? Freqüentemente, os historiadores da filosofia designam como filosofia moderna aquele saber que se desenvolve na Europa durante o século XVII tendo como referências principais o cartesianismo — isto é, a filosofia de René Descartes —, a ciência da Natureza galilaica — isto é, a mecânica de Galileu Galilei —, a nova idéia do conhecimento como síntese entre observação, experimentação e razão teórica baconiana — isto é, a filosofia de Francis Bacon — e as elaborações acerca da origem e das formas da soberania política a partir das idéias de direito natural e direito civil hobbesianas — isto é, do filósofo Thomas Hobbes. No entanto, a cronologia pode ser um critério ilusório, pois o filósofo Bacon publica seus Ensaios em 1597, enquanto o filósofo Leibniz, um dos expoentes da filosofia moderna, publica a Monadologia e os Princípios da Natureza e da Graça e